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Turquia: mais 100 juízes e 60 militares já foram presos


Foram horas de tensão, incerteza e confrontos que deixaram 265 mortos e mais de 1.400 feridos. Mas, com a tentativa de golpe de Estado sob controle e o poder do presidente Recep Tayyip Erdogan fortalecido, o governo não demorou a responder à fracassada ofensiva protagonizada por forças militares na noite de sexta-feira. Em discurso em Istambul, Erdogan pediu no sábado a extradição do clérigo radical Fethullah Gülen, a quem atribuiu a responsabilidade pela ofensiva militar, enquanto na capital, Ancara, o primeiro-ministro Binali Yildirim anunciou a prisão de mais de 2.800 militares — com patentes que vão de simples soldados a oficiais do alto escalão das Forças Armadas — envolvidos nos confrontos, além da demissão de mais de 2.700 juízes.

Neste domingo, em um novo dia de repressão à tentativa de derrubar o governo, a agência de notícias estatal Anadolu afirma que mais 100 juízes e 60 militares já foram presos, enquanto o canal de televisão local "NBT" já fala em um total de mais de 6 mil detenções, citando o ministro da Justiça, Bekir Bozdag.

"O processo judicial sobre este caso vai continuar", afirmou Bozdag, segundo o canal.

Enquanto isso, o chanceler francês afirmou que a tentativa de golpe contra seu governo não é um "cheque em branco" para que Erdogan faça uma limpeza no Exército, como o presidente citou recentemente.

Atendendo a um pedido do presidente, que alertou para o perigo de novas insurreições, a população de Istambul tomou as ruas, carregando bandeiras nacionais e gritando palavras de apoio a Erdogan. Na noite de sexta-feira, antes mesmo de retornar a Istambul, Erdogan — que passava férias no balneário de Marmaris, no Sudoeste do país — anunciara que faria “uma limpeza nas Forças Armadas”, promessa que repetiu ao afirmar que militares envolvidos no golpe eram “um tumor que estava sendo extirpado”.

"Esses eventos foram causados por uma minoria dentro de nossas Forças Armadas que não consegue aceitar nossa unidade nacional", afirmou, em discurso a milhares de simpatizantes na cidade. "O Exército pertence ao povo turco e não ao Estado paralelo. O grupo responsável por este ato ilegal não representa as Forças Armadas da Turquia".

O “Estado paralelo” ao qual o presidente se referiu é um eufemismo usado para descrever os apoiadores de Gülen, ex-aliado de Erdogan, que se transformou no principal rival político do presidente. Nos últimos três anos, o governo turco classificou os simpatizantes de Gülen no país como uma organização terrorista e reprimiu veículos de mídia acusados de associação com o clérigo que vive, desde 1999, nos Estados Unidos.

"Peço ao presidente dos Estados Unidos: entregue-nos este homem que vive na Pensilvânia", afirmou Erdogan sobre Gülen. "Vocês sempre tiveram de nós todos os terroristas que pediram. Se somos realmente parceiros estratégicos, por favor, atenda a este pedido de seu parceiro", disse.

Em entrevista ao diário britânico “Guardian”, Gülen condenou a tentativa de golpe e levantou suspeitas de que a ofensiva tenha sido orquestrada para fortalecer, e não derrubar, o governo.

"Agora que a Turquia encontrou o caminho para a democracia, ele não pode ser revertido. O golpe parece ter sido muito mal planejado e executado, e tudo parece estar funcionando a favor de Erdogan", afirmou o clérigo, que diz ter sofrido ao testemunhar todos os golpes de Estado ocorridos no país. "Não creio que o mundo acredite nas acusações do presidente. É possível que se trate de uma farsa para legitimar futuras acusações contra meus seguidores".

Durante a tarde deste sábado, Yildirim afirmou — ao comentar a fracassada tentativa de golpe de Estado no país — que qualquer país que defendesse o clérigo muçulmano Fethullah Gülen, acusado pelo governo de ser o responsável pela ofensiva de sexta-feira, “estaria em guerra com a Turquia”. A declaração gerou críticas do porta-voz do Departamento de Estado americano, John Kirby.

"Quaisquer insinuações públicas ou acusações de que Washington tenha participação na fracassada tentativa de golpe são absolutamente falsas e podem prejudicar nossas relações bilaterais", afirmou o porta-voz.

JUÍZES FORAM PRESOS, DIZ IMPRENSA

Em Luxemburgo, o secretário de Estado americano, John Kerry, contou que não descarta extraditar Gülen para a Turquia, mas afirma não ter recebido qualquer pedido oficial de extradição ou qualquer prova de atividade criminosa envolvendo o clérigo.

"Até agora o governo turco não foi capaz de produzir qualquer evidência", afirmou o assessor de imprensa de Gülen, Alp Aslandogan.

Com milhares de seguidores no país, o Hizmet, movimento liderado por Gülen, é encarado como a principal ameaça à estabilidade do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), legenda de Erdogan e Yildirim. Após o fracasso do golpe, o governo iniciou um expurgo de gülenistas no Judiciário e nas Forças Armadas. Entre os detidos estão o general Akin Öztürk, ex-comandante da Força Aérea turca e membro do Supremo Conselho militar, apontado como líder da insurreição, além dos comandantes do segundo e terceiro Exércitos do país.

"As Forças Armadas estão determinadas a remover todos os membros do movimento gülenista de suas fileiras", afirmou o chefe interino do Estado Maior, Umit Dundar.

Sequestrado por militares na noite de sexta-feira, o comandante das Forças Armadas do país, Hulusi Akar, foi resgatado durante a madrugada.

Dois majores, um capitão e cinco soldados envolvidos na tentativa de golpe pediram asilo político na Grécia após pousarem de helicóptero nos arredores de Alexandropoulos. O Ministério da Defesa grego afirmou que os militares turcos foram detidos por entrarem ilegalmente no país.

No Judiciário, uma reunião de emergência do Alto Conselho da Procuradoria, principal órgão da Justiça no país, culminou na demissão imediata de 2.745 juízes. A agência estatal Anadolu informou que dez membros do conselho foram detidos, e mandados de prisão foram emitidos contra 48 membros de tribunais administrativos e 140 integrantes de tribunais de apelação do país. Segundo os diários “Guardian” e “Telegraph”, e a agência Reuters, os juízes demitidos também tiveram prisões decretadas.

O expurgo dos envolvidos na tentativa de golpe levou o governo a indicar, sutilmente, que a pena de morte pode ser reinstaurada no país. Em Ancara, manifestantes pediram pena de morte para os responsáveis pela ofensiva.

"Recebemos sua mensagem", afirmou o premier.

Já Erdogan respondeu aos pedidos de execução de militares afirmando que tais medidas “podem ser discutidas pelo Parlamento no futuro”.


OPOSIÇÃO MANIFESTA APOIO AO GOVERNO

Para Erol Önderoglu, representante da ONG Repórteres Sem Fronteiras na Turquia, a rejeição ao golpe não pode ser confundida com um apoio a Erdogan.

"Muitos dos manifestantes não são eleitores do partido, mas se levantaram em defesa de valores democráticos, apesar das recentes ações de repressão contra a oposição", afirmou.

Líderes do Partido do Povo Republicano (CHP), do Partido Nacionalista Turco (MHP) e do Partido Democrático do Povo (HDP), legendas que compõem o Parlamento com o AKP, condenaram a ofensiva, pedindo uma resposta unificada da sociedade contra tentativas de golpe.

Fonte: O Globo
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